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Mónica Jemusse, residente e natural de Niassa, concretamente no bairro do Sambula, tem 5 filhos e é casada. Não sabe, ao certo, a idade que tem, mas julga estar nos quarenta e poucos anos. Vive com 7 familiares, num lar humilde que é, maioritariamente, sustentado pelo marido, mas Mónica tenta complementar a renda com o pouco lucro resultante da agricultura.
Ainda se recorda da primeira interação com a agente facilitadora da Fundação MASC (Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil) e admite que, inicialmente, não compreendeu a lógica da iniciativa.
“Pensei que fossem nos dar dinheiro, mas mudaram a nossa forma de pensar. Hoje, estou a poupar o meu próprio dinheiro e, aos poucos, a melhorar a minha vida, com o que tenho aprendido. Estamos a correr atrás dos nossos direitos e sonhos. Por exemplo, nunca tínhamos ouvido falar de advocacia. Era difícil aproximar-nos do Governo”, confessa Mónica.
Não se deixe enganar pelo nome: os Grupos de Poupança facilitados pela Fundação MASC não são, simplesmente, grupos para poupar dinheiro. São, sobretudo, mecanismos de empoderamento das comunidades para trazer melhorias nas vertentes económica, política e social paras as mulheres, suas famílias e as comunidades onde se inserem. O acompanhamento realizado pela Fundação MASC inclui, sempre, uma vertente sustentável, intermediária e de guia, concedendo as ferramentas necessárias, mas explicando sempre que as próprias mulheres é que têm de se apoderar das iniciativas e das suas próprias vidas.
Mónica, assim como outras integrantes dos Grupos de Poupança, realiza poupanças mensais; assiste a palestras com temáticas identificadas de acordo com as necessidades (direitos humanos, saúde materno-infantil, nutrição, cooperativismo agrícola, etc); frequenta aulas de alfabetização; faz parte de uma cooperativa agrícola e é incentivada a envolver-se em espaços de participação política, de modo a fazer parte das mudanças que pretende ver. Nem todos os grupos existentes, até ao momento, desenvolvem todas estas actividades porque os ritmos, contextos e necessidades não são iguais.
Para Mónica, um dos momentos mais marcantes da iniciativa foi a reparação do furo de água da Unidade Sanitária de Sambula. A avaria obrigava as parturientes a terem de ir ao rio para se lavarem, além de criar inúmeros outros constrangimentos como impossibilitar a limpeza da própria maternidade, dos lençóis, casas de banho, entre outros. Muitas vezes, as próprias enfermeiras percorriam longas distâncias para a busca de água, o que aumentava o tempo de espera dos pacientes.
Identificado o problema e a vontade de resolver, a Fundação MASC incentivou as mulheres integrantes dos grupos de poupança a fazerem parte do Comité de co-gestão da mesma Unidade Sanitária, com o intuito de fazer a monitoria e advocacia para a melhoria dos serviços. O resultado foi positivo: o furo de água foi consertado e, consequentemente, as situações secundárias que eram resultantes da falta de água, também ficaram para a história.
De igual modo, foi possível resolver problemas, há muito pendentes, como falta de medicamentos e ausência de ambulância na Unidade Sanitára. Foi um momento de grande aprendizado e restabelecimento de esperança.
“Antes não poderíamos querer entrar ali. Mas agora a situação está muito melhor e era isso que queríamos. É nosso direito”, observa Mónica.
O furo de água não beneficiou apenas às parturientes, mas todos os pacientes das outras alas da Unidade Sanitária e, também, as famílias que vivem nos arredores.
Através dos Grupos de Poupança, Mónica também conseguiu realizar um dos seus grandes sonhos: ler e escrever.
Embora diga ter, ainda, dificuldades, afirma que nunca pensou que um dia iria saber escrever o seu próprio nome. Ela admite que a sua auto-estima mudou muito. “A Mónica antes de participar dos Grupos de Poupança e agora são pessoas diferentes: eu agora tenho esperança”, garante.